O título representa um compromisso de longo prazo e muito trabalho, especialmente em ações que já fazem parte do projeto de valorização da gastronomia desenvolvido por BH
Belo Horizonte alcançou uma conquista histórica em 2019: a cidade é oficialmente, Cidade Criativa da UNESCO pela Gastronomia. O resultado da candidatura à Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO (UCCN) foi revelado no dia 30 de outubro de 2019, por meio de lista divulgada no site da instituição. O que já era nosso motivo de orgulho, agora recebe reconhecimento mundial. A capital mineira passa a integrar o grupo internacional de cooperação entre cidades que têm atividades criativas como propulsoras do desenvolvimento sustentável. Neste ano, Belo Horizonte foi eleita para uma das duas vagas destinadas a candidaturas brasileiras, ao lado de Fortaleza, designada no campo criativo Design.
Para Ricardo Rodrigues, presidente da Abrasel em Minas e coordenador da Frente da Gastronomia Mineira, existem diversos motivos para esta vitória. "O primeiro deles está na nossa própria cozinha, que é singular. A gastronomia, o cozinhar e a cultura dos saberes e sabores de Minas, definitivamente, fazem parte da vida do mineiro. Não quero omitir nossas origens na cozinha portuguesa, mas fato é que desde a segunda metade do século XVIII, Minas Gerais desenvolveu uma culinária autêntica e isso é o que nos diferencia de outros polos gastronômicos do país", diz.
Ainda segundo Ricado, o segundo fator que BH apta para esta importante conquista é o fato dos bares e restaurantes da capital estarem no seu melhor momento. Em 2017, BH já havia se candidatado a este prêmio de Cidade Criativa. Passados dois anos, o cenário é outro: todos os profissionais envolvidos na cadeia produtiva da nossa gastronomia estão mais maduros e dispostos a compartilhar suas criações. "Há sinergia, também, entre os diversos setores e o Poder Público. Prova disso é que, sob a coordenação da Belotur, representada por seu presidente Gilberto Castro, somada à participação de várias outras entidades e personalidades ligadas a gastronomia, construímos um dossiê sobre as potencialidades de BH [enviado a UNESCO], que mais que um simples documento digital, tem sabor e cheiro. Reflete a realidade e o calor que Minas tem de acolher. Mostramos quem somos e, principalmente, como fazemos",
Para a Abrasel em Minas Gerais, este título traz para BH uma troca de experiências e integração com quase 250 cidades do mundo inteiro que a UNESCO já reconheceu como criativas em outros segmentos. "Poderemos dar e receber informação, além de adquirir boas práticas daqueles que já possuem essa chancela. Por fim, é importante destacar ainda que muitos turistas internacionais utilizam as cidades criativas da UNESCO como referência para elaborar guias de turismo. Isso significa que, a partir da valorização de nossa gastronomia, começaremos a fazer parte de uma rede de disseminação dos nossos atrativos em nível internacional. O futuro parece já ter chegado para nós! Viva BH, seu povo, sua história e, principalmente, sua cozinha", finaliza Ricardo.
Compromisso mineiro
O título representa um compromisso de longo prazo e muito trabalho, especialmente em ações que já fazem parte do projeto de valorização da gastronomia desenvolvido pela Prefeitura de Belo Horizonte, com coordenação da Belotur. Nos últimos anos, órgãos públicos e privados, instituições de ensino e sociedade civil vêm trabalhando na elaboração colaborativa de um plano estratégico para o setor gastronômico - em múltiplas frentes, em consonância com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ODS e da Agenda 2030.
Além da instauração de uma governança, outras ações foram desenhadas, contemplando políticas públicas inovadoras; estudos e monitoramentos sobre os setores criativos; a integração do município com os circuitos limítrofes e a ampliação da oferta de roteiros gastronômicos de experiência.
Tais ações, e a própria candidatura à Rede de Cidades Criativas, integram o Programa Municipal de Turismo Gastronômico, que tem como objetivo posicionar e qualificar Belo Horizonte e região como polo turístico gastronômico de relevância, por intermédio de políticas públicas e da articulação entre a cadeia produtiva.
A candidatura
Com um projeto desenvolvido a muitas mãos, Belo Horizonte começou a se preparar para concorrer ao título de Cidade Criativa em em abril de 2018. Foram realizados três encontros para mobilização da cadeia produtiva da gastronomia e construção do dossiê. O primeiro, o “Encontro das Cidades Criativas: Turismo e Gastronomia”, reuniu representantes das três cidades que já foram designadas pela UNESCO no mesmo campo criativo: Belém (PA), Florianópolis (SC) e Paraty (RJ). Em 2019 foram dois encontros, com a presença de cerca de 240 lideranças governamentais e da sociedade civil.
A partir dessas conferências, a Belotur organizou cinco oficinas de trabalho para a elaboração do documento. Participaram cerca de 90 membros do poder público, entidades representativas (Abrasel, CDL, SEBRAE, FIEMG, sindicatos e associações), setor privado (produtores, empresários, chefs e gastrônomos) e instituições de ensino. Os projetos, ações e diretrizes descritas no dossiê possuem, dessa forma, uma grande confluência com o que os atores do setor da gastronomia pensam e planejam para o futuro da capital.
A Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO
A UCCN é um dos principais programas da UNESCO para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, e da Nova Agenda Urbana, à nível local. Ela abrange sete áreas criativas: Artesanato e Artes Folclóricas, Design, Cinema, Gastronomia, Literatura, Música e Arte Midiática.
A Rede foi criada em 2004 e atualmente conta com mais de 246 cidades que trabalham juntas para alcançar um objetivo comum: colocar a criatividade e as indústrias culturais no centro de seus planos locais de desenvolvimento, além de cooperar ativamente com os planos de âmbito internacional.
Ao ingressar na Rede, as cidades se comprometem a compartilhar suas melhores práticas e desenvolver parcerias ao envolver os setores público e privado, bem como a sociedade civil, a fim de fortalecer a criação, a produção, a distribuição e a disseminação de atividades, bens e serviços culturais; desenvolver centros de criatividade e inovação e ampliar as oportunidades para criadores e profissionais do setor cultural; melhorar o acesso e a participação na vida cultural, em particular para grupos e indivíduos marginalizados ou vulneráveis; integrar a cultura e a criatividade de forma plena em planos de desenvolvimento sustentável.
No Brasil, já fazem parte do grupo as seguintes cidades: Belém/PA (Gastronomia), Brasília/DF (Design), Curitiba/PR (Design), Florianópolis/SC (Gastronomia), João Pessoa/PB (Artesanato e Artes Folclóricas), Paraty/RJ (Gastronomia), Salvador/BA (Música), e Santos/SP (Cinema).
Atualmente a Rede Mundial de Cidades Criativas, no campo da Gastronomia é composta pelas cidades de: Florianópolis (SC), Belém (PA), Paraty (RJ), Cochabamba (Bolívia), ChengDu, Macao e Shunde (China), Buenaventura e Popayán (Colômbia), Jeonju (Coréia do Sul), Burgos e Dénia (Espanha), San Antonio e Tucson (EUA), Rasht (Irã), Alba e Parma (Itália), Tsuruoka (Japão), Zahlé (Líbano), Enseada (México), Bergen (Noruega), Cidade do Panamá (Panamá), Östersund (Suécia), Phuket (Tailândia) e Hatay e Gaziantep (Turquia).
Fonte: PBH