Saldo do setor no último trimestre é o maior entre todos os analisados, segundo o IBGE. Resultado ainda reflete contratações de dezembro
Resiliente, o setor de alimentação fora do lar continua puxando a criação de empregos no Brasil, apesar da séria dificuldade que parte dos bares e restaurantes enfrenta em face de fatores como a inflação e as dívidas acumuladas.
Os números da PNAD Contínua, divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira (31) mostram que o grupamento Alojamento e Alimentação (no qual os bares e restaurantes representam mais de 85%, segundo dados da Receita Federal) teve alta de 2,8% no trimestre dez/jan/fev, em relação ao trimestre anterior (set/out/nov).
Foi a maior alta entre todos os grupamentos pesquisados e um dos dois únicos a ter resultado positivo, junto com Transportes (1,8%). Ao todo contabiliza-se um saldo de mais de 100 mil novas vagas criadas no período em bares e restaurantes. Em relação ao mesmo trimestre de um ano atrás, a alta foi de 3,3% no setor.
O resultado positivo vem em um momento de dificuldade, como aponta a pesquisa divulgada pela Abrasel nesta semana, que ouviu 1513 empresários do setor. Quase um terço (30%) apontou ter trabalhado com prejuízo em fevereiro, acentuando a tendência – em dezembro eram 19%, número que subiu para 23% em janeiro. Em conjunto com os que trabalharam com estabilidade (36%), dois terços dos bares e restaurantes trabalharam sem lucro em fevereiro.
“O resultado do número de empregos mostra a resiliência e o otimismo do setor, além de sua capacidade de movimentar a economia, gerando mais vagas que todos os outros setores em termos percentuais, mesmo em um momento de incerteza. Mas é preciso levar em conta que o número incorpora o bom resultado de dezembro, um mês em que tradicionalmente os bares e restaurantes costumam contratar", afirma o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci.
"O começo do ano já se mostra muito mais difícil, com um aprofundamento das dificuldades das empresas em operar, já que as margens sofrem com os efeitos da inflação, do endividamento e dos compromissos com o pagamento de empréstimos tomados durante a pandemia”, completa Solmucci.
A pesquisa aponta também que houve um maior número de empresas dispensando funcionários do que aumentando o quadro em fevereiro – foram 19% as que demitiram, contra 14% que contrataram no período. No entanto, a maioria optou por manter o quadro – foram 65% (outros 2% não responderam/a empresa não existia em janeiro).
“É uma situação clara, que mostra a importância e a urgência de ações de auxílio a um setor severamente atingido pela pandemia e que sente seus efeitos até agora, com empresas endividadas e pressionadas por aumentos de insumos e serviços, sem conseguir pagar impostos e outros compromissos”, completa Solmucci.