Fora do lar, aumento até agora foi menor que em supermercado
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Donos de bares e restaurantes veem sinais de que aumentos dos preços da cerveja estão mais próximos. Enquanto o índice de preços ao consumidor (IPCA) somou avanço de 11,73% em 12 meses acumulados até maio, o preço da cerveja fora do lar ficou 5,22% mais alto no mesmo período. Com a pressão de custos maior do que esperado, fontes do setor cervejeiro acreditam que as fabricantes podem antecipar para agosto a virada de tabelas, que tradicionalmente ocorre no fim de setembro até meados de outubro.
Um reforço para a tese de que os reajustes não devem demorar é que, nos supermercados, o preço já ficou mais salgado. De acordo com o índice apurado pela Associação Paulista de Supermercados (Apas) com a Fipe, o preço da cerveja subiu 0,57% em maio, com repasses de custos de frete. A associação, porém, não tem informação sobre novo aumento de preços. Pela medição do IBGE, o preço da cerveja dentro do lar ficou 9,38% mais alto em 12 meses.
Essa defasagem entre o cenário inflacionário e o preço da cerveja se deve à dificuldade de repassar os elevados custos, vindos principalmente da dolarização dos insumos e dos gastos com energia, afirma Paulo Petroni, presidente da CervBrasil, associação que reúne pequenas e médias cervejarias, além do Grupo Petrópolis, terceira maior fabricante do país, atrás de Ambev e Heineken. “A grande preocupação é o poder de compra do consumidor. Tem que ser cirúrgico no ajuste para não perder fatia de mercado”, diz, chamando atenção para o preço do diesel, que está puxando a linha de gastos com distribuição.
Além da perda já acumulada, os próximos reajustes, antecipados ou não, ainda serão insuficientes para anular o impacto da alta nos custos. O balanço da Ambev dá dimensão. No primeiro trimestre a receita por hectolitro aumentou 11,3%, mas o custo subiu 23,9% - bem acima da projeção de 16% a 19% que a empresa fez para esse indicador em 2022.
A correção também não terá a dimensão necessária, acredita Petroni, para bater de frente com os contratos futuros da cevada, que estão sendo negociados a preços mais altos. “Para os grandes fabricantes, o impacto do preço da cevada e do malte ainda não chegou, porque estão trabalhando com estoques, mas o preço futuro deu uma esticada, que deverá ter impacto na reposição de estoque em janeiro e fevereiro.”
Heineken e Grupo Petrópolis, segunda e terceira maiores fabricantes, respectivamente, não quiseram comentar. O Sindicerv, sindicato que representa o grupo holandês e a Ambev, informou não comentar preços.
A Ambev informou que a aposta é aumentar a participação de garrafas retornáveis e as vendas do portfólio premium, que tem melhores margens. Há cerca de 10 dias, Fernando Tennenbaum, diretor financeiro da AB InBev, controladora da Ambev, disse ao jornal americano “The Wall Street Journal” que houve lentidão em ajustar receita à inflação no Brasil e que ferramentas de preço, embalagens e mix de produtos devem ser usadas para lidar com isso.
As vendas do setor têm aumentado e a expectativa da CervBrasil é de que o volume vendido atingirá o recorde de 15 bilhões de litros em 2022. Dados da consultoria Kantar mostram que o número de consumidores aumentou 5,1 milhões nos 12 meses até março, sobre um ano antes. Esse crescimento se deve ao aumento da frequência nos bares, mas também à migração mais intensa para rótulos mais baratos, diz Hudson Romano, gerente sênior da Kantar.
Fonte: Valor Econômico